sábado, 21 de julho de 2012


Ah, se eu pudesse voltar no tempo... 

 Se você tem mais de 60 anos, experimente, um dia, pôr no papel todas as coisas do passado que você se arrepende de ter ou de não ter feito. Não esqueça nenhuma. Terminada a tarefa, leia todas em voz alta e depois... Delete a lista, de preferência fisicamente e em um ritual (em uma fogueira, por exemplo) para conferir solenidade ao ato e dar a ele caráter celebrativo, de acerto final de contas com o passado. Para ser, definitivamente, a última vez que você perdeu tempo com essas coisas. O motivo? Ficar lembrando atitudes das quais nos arrependemos, e  com as quais já aprendemos, faz sofrer e é inútil. Adiantaria se, por acaso, viajássemos no tempo. Poderíamos, assim, no passado, tomar outra atitude, fazer uma opção diferente. Infelizmente, ou felizmente, ainda não inventaram tal recurso. E, mesmo se ele existisse ninguém garante que, passado novamente o tempo, não estaríamos, de volta ao futuro, arrependidos das novas atitudes tomadas. Logo, o melhor a fazer é queimar o arquivo morto da memória...

Não precisamos reescrever nossa história de vida para entendermos que as atitudes tomadas ontem, mesmo as sabidamente erradas, não podem ser redivivas. Se nós já nos arrependemos delas, nos conscientizamos que erramos e nos perdoamos, de nada adianta chorarmos sobre o leite derramado. O que passou, como dizem, passou. Em todo caso, chama a atenção o quanto essa lei da vida, tão irrevogável quanto à da gravidade, custa a ser aceita por pessoas com dificuldade em lidar com o passado. Não deveria ser assim e o psicólogo Alexandre Rivero, titular do Consultório de Psicologia e Ressignificação Humana, de São Paulo (SP), explica a razão. “Se eu não me perdoo, fico como que com um pesado saco de areia amarrado aos pés que impede de caminhar adiante e viver plenamente. O perdão, nesse caso, é a verdadeira ressignificação, ou a possibilidade, de olhar para uma velha situação já vivida com um novo olhar, renovado, sob uma perspectiva diferente”, alerta.

Terapia sem culpa – Muitas vezes, segundo os especialistas, a impossibilidade de se perdoar pode ser resultado de um quadro de depressão. Por isso, é preciso prestar atenção se a sensação constante de culpa vier acompanhada de outros sintomas clássicos dessa doença, como mudanças de humor, perda de interesse ou prazer nas atividades, ausência de autoestima, distúrbio de sono ou de apetite, falta de energia e de concentração. O que não é raro, diga-se, na terceira idade. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a depressão acomete cerca de 15% da população de idosos do País.

Uma solução para dar fim ao remorso, ao sentimento de culpa e a renitente sensação de estar em falta com o passado pode ser uma terapia analítica. “Ela ajuda o idoso a aceitar a idade, suas limitações e a não se prender ao que deixou de ser feito, mas ao que ainda poderá fazer”, explica a psicóloga Amanda Spinicci Paiva, para quem a terapia, nessa fase da vida, não é perda de tempo. “A sociedade não vê sentido em cuidar dos problemas existenciais do idoso, pois acredita que ele não tem mais o que construir. Além disso, o próprio idoso pode entender que, já por ter vivido uma longa história de vida, não pode mudar seu rumo, o modo de pensar ou agir. Na realidade, porém, a terapia não tem como objetivo mudar o jeito do idoso, mas acolhê-lo, respeitá-lo e compreendê-lo, fazendo-o se aceitar e apresentando a ele maneiras diferentes de viver”, afirma.

Aprendizado – Não podemos, de fato, pensar que, por termos cabelos brancos ou já não termos mais cabelo algum, não estamos aptos a assimilar novos ensinamentos e ressignificar nossas vidas. É o que, novamente, nos compartilha o psicólogo Alexandre Rivero. “Se, no passado, fizemos uma determinada escolha, precisamos levar em conta que essa foi a melhor possível naquela situação e com a experiência que tínhamos até então; e não termos o desejo fantasioso e nostálgico de, aos 20 anos, por exemplo, termos agido com a experiência de uma pessoa de 60. Nossa experiência de vida é dinâmica e estamos constantemente aprendendo, seja lá a idade que tivermos”, explica o especialista.




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