Ah, se eu pudesse voltar no tempo...
Não precisamos reescrever nossa história de vida para
entendermos que as atitudes tomadas ontem, mesmo as sabidamente erradas, não
podem ser redivivas. Se nós já nos arrependemos delas, nos conscientizamos que
erramos e nos perdoamos, de nada adianta chorarmos sobre o leite derramado. O
que passou, como dizem, passou. Em todo caso, chama a atenção o quanto essa lei
da vida, tão irrevogável quanto à da gravidade, custa a ser aceita por pessoas
com dificuldade em lidar com o passado. Não deveria ser assim e o psicólogo Alexandre
Rivero, titular do Consultório de Psicologia e Ressignificação Humana, de São
Paulo (SP), explica a razão. “Se eu não me perdoo, fico como que com um pesado
saco de areia amarrado aos pés que impede de caminhar adiante e viver
plenamente. O perdão, nesse caso, é a verdadeira ressignificação, ou a
possibilidade, de olhar para uma velha situação já vivida com um novo olhar,
renovado, sob uma perspectiva diferente”, alerta.
Terapia sem culpa – Muitas vezes, segundo os especialistas,
a impossibilidade de se perdoar pode ser resultado de um quadro de depressão.
Por isso, é preciso prestar atenção se a sensação constante de culpa vier
acompanhada de outros sintomas clássicos dessa doença, como mudanças de humor,
perda de interesse ou prazer nas atividades, ausência de autoestima, distúrbio
de sono ou de apetite, falta de energia e de concentração. O que não é raro,
diga-se, na terceira idade. De acordo com a Associação Brasileira de
Psiquiatria, a depressão acomete cerca de 15% da população de idosos do País.
Uma solução para dar fim ao remorso, ao sentimento de culpa
e a renitente sensação de estar em falta com o passado pode ser uma terapia
analítica. “Ela ajuda o idoso a aceitar a idade, suas limitações e a não se
prender ao que deixou de ser feito, mas ao que ainda poderá fazer”, explica a
psicóloga Amanda Spinicci Paiva, para quem a terapia, nessa fase da vida, não é
perda de tempo. “A sociedade não vê sentido em cuidar dos problemas
existenciais do idoso, pois acredita que ele não tem mais o que construir. Além
disso, o próprio idoso pode entender que, já por ter vivido uma longa história
de vida, não pode mudar seu rumo, o modo de pensar ou agir. Na realidade,
porém, a terapia não tem como objetivo mudar o jeito do idoso, mas acolhê-lo,
respeitá-lo e compreendê-lo, fazendo-o se aceitar e apresentando a ele maneiras
diferentes de viver”, afirma.
Aprendizado – Não podemos, de fato, pensar que, por termos
cabelos brancos ou já não termos mais cabelo algum, não estamos aptos a
assimilar novos ensinamentos e ressignificar nossas vidas. É o que, novamente,
nos compartilha o psicólogo Alexandre Rivero. “Se, no passado, fizemos uma
determinada escolha, precisamos levar em conta que essa foi a melhor possível
naquela situação e com a experiência que tínhamos até então; e não termos o
desejo fantasioso e nostálgico de, aos 20 anos, por exemplo, termos agido com a
experiência de uma pessoa de 60. Nossa experiência de vida é dinâmica e estamos
constantemente aprendendo, seja lá a idade que tivermos”, explica
o especialista.
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