segunda-feira, 1 de abril de 2013


Rosto do Santo Sudário parece com o das vítimas da violência, diz Papa.
Lenço que teria envolvido Cristo é exposto aos fiéis neste sábado (30/03/13).
Da EFE

O Papa Francisco afirmou que o rosto desfigurado do Santo Sudário se assemelha ao de tantos homens e mulheres "feridos por uma vida que não respeita sua dignidade, por guerras e violências que afligem os mais vulneráveis", mas que ele convida à esperança.

O pontífice fez esta declaração em uma mensagem de vídeo divulgada neste sábado (30) pelo Vaticano por ocasião da ostensão da Síndone, como é conhecido também o lenço que, segundo a tradição, envolveu o corpo de Cristo e que será mostrado de forma extraordinária aos fiéis pela TV.

O Santo Sudário fica guardado na catedral de Turim, na Itália, e em raras ocasiões é exposto à veneração dos fiéis. A última vez foi em 2010, por ocasião da visita de Bento XVI à cidade.

"Este rosto desfigurado se assemelha ao de tantos rostos de homens e mulheres feridos por uma vida que não respeita sua dignidade, por guerras e violências que afligem os mais vulneráveis", afirma o papa na mensagem.

Tela de Ipad mostra neste sábado (30/03/13), em Roma, o Santo Sudário de Turim; uma empresa do Piemonte criou um aplicativo, o Sudário 2,0, que mostra imagens da mortalha, além de interpretações científicas e teológicas sobre ela (Foto: Vincenzo Pinto/AFP)

"No entanto, o rosto do Santo Sudário transmite uma grande paz; este corpo torturado expressa uma altivez soberana. É como se deixasse transparecer uma energia condensada, mas potente; é como se nos dissesse: tenha confiança, não perca a esperança; a força do amor de Deus, a força do Ressuscitado, tudo ela vence", acrescentou.

Francisco disse que o rosto da Síndrone tem os olhos fechados, "mas, no entanto, misteriosamente nos olha e no silêncio nos fala".

"Como é possível que o povo fiel queira ficar diante deste ícone de um homem flagelado e crucificado?", questionou o papa, que acrescentou: "Porque o homem do Santo Sudário nos convida a contemplar Jesus de Nazaré."

O bispo de Roma acrescentou que a imagem gravada no tecido fala ao coração dos homens "e nos leva a subir ao monte do Calvário, a olhar o madeiro da cruz, a submergir no silêncio eloquente do amor".

O pontífice ressaltou que, através do Santo Sudário, chega a Palavra única e última de Deus, "que é o amor feito homem, encarnado em nossa história; o amor misericordioso de Deus, que tomou sobre si todo o mal do mundo para nos libertar de seu domínio", explicou.

A Síndone (do grego "sindon", mortalha) é considerada uma das relíquias mais famosas e discutidas do Cristianismo. Mede 4m39 de extensão por 1m15 de largura. Ela é conhecida desde 1353.

As supostas provas de que o pano realmente envolveu o corpo de Cristo começaram a surgir em 1898, depois que um fotógrafo de Turim tirou uma foto dele e, no momento da revelação, se deu conta de que as imagens negativas mostravam o corpo e o rosto de um homem crucificado, segundo contavam os Evangelhos.

Em 1989, o tecido foi submetido ao exame do carbono 14 em três laboratórios de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido, que determinaram que ele foi feito entre 1260 e 1390.

Vários especialistas criticaram o teste, por considerarem que foi mal feito. Segundo o professor russo Andrei Ivanov, os três pedaços de pano que foram cortados para serem analisados eram das pontas; ou seja, a parte pela qual o pano era sustentado pelos cardeais nas várias ocasiões em que foi apresentado aos fiéis ao longo dos séculos.

A Igreja sempre considerou como irrelevante a idade do tecido, por dizer que a Síndone não é uma prova, "mas um convite para a oração".

sexta-feira, 29 de março de 2013

‘Salve Jorge’: da Palestina ou da Capadócia?
Autor: Leonardo Boff

No Brasil e alhures são milhões que veem novelas. Atualmente uma, "Salve Jorge”, se desenrola na Capadócia, Turquia, onde teria vivido São Jorge.

Entre os estudiosos há uma antiga discussão sobre o lugar de seu nascimento. Ela vem largamente discutida por Malga di Paulo, pesquisadora da vida do santo e que forneceu os dados para a atual novela. Um livro seu deverá sair brevemente. Para Malga que conhece a fundo a Capadócia, todos os indícios levam àquele lugar como a pátria natal deste famoso mártir. Outros o colocam em Lod na Palestina, hoje Israel, onde se construiu um santuário em sua homenagem.

É muito pouco o que podemos dizer de forma segura sobre o tema. A escola de historiadores críticos da vida dos santos e dos mártires, surgida a partir do século XVII, os Bolandistas, e sua obra a Acta Sanctorum deixa a questão em aberto. Outro grupo, criado ao redor de A. Buttler, baseando-se nos Bolandistas e acessível em português em 12 volumes, A Vida dos Santos (Vozes 1984) assevera: "Há toda uma série de motivos para se acreditar que São Jorge foi um mártir verdadeiro e real que sofreu a morte em Lida na Palestina provavelmente na época anterior a Constantino (306-337). Fora disso, parece que nada mais se pode afirmar com segurança” (vol. IV, p. 188).

Minha tendência é afirmar a Palestina e não Capadócia como o lugar de seu nascimento. A razão se prende ao fato de que teria havido uma confusão de nomes. Com efeito, havia na Capadócia um bispo chamado Jorge da Capadócia, fato historicamente bem atestado. Entrou na história da teologia, em razão das polêmicas acerca da natureza de Cristo: seria só semelhante a de Deus (arianos) ou seria a mesma (antiarianos)? Tal discussão dividiu a Igreja. O imperador Constâncio II (um de seus títulos era de Papa) queria assegurar a unidade do império mediante uma confissão única, no caso, a ariana. Militarmente ocupou Alexandria, foco da resistência antiariana e impôs Jorge da Capadócia como bispo ariano (357-361), mais tarde assassinado. Isso consta até nos manuais de teologia.

Minha hipótese é que os primeiros compiladores da vida de São Jorge, já no século V e depois, no século XII; com o autor da Legenda Áurea, confundiram São Jorge com esse conhecido Jorge da Capadócia e assim o fizeram nascer ai. Uma hipótese.

Deixando a discussão de lado, importa lembrar sua figura mais conhecida: um guerreiro, montado sobre um cavalo branco, vestido de couraça, com uma cruz vermelha num fundo branco, enfrentando terrível dragão com sua lança pontiaguda.

Por seu pai ter sido militar, seguiu essa carreira. Foi tão brilhante que o imperador Diocleciano o incorporou à sua guarda pessoal com a alta patente de Tribuno. Quando este imperador obrigou todos os soldados cristãos a renunciarem a fé cristã e adorarem os deuses romanos, sob pena de morte, Jorge se recusou e saiu em defesa de seus irmãos de fé. Preso e torturado, miraculosamente passou, diz a lenda, ileso do caldeirão de chumbo e de vários envenenamentos. Mas acabou sendo decapitado.

No início, no Ocidente, era venerado apenas como um simples mártir com sua palma típica. Com tempo e especialmente devido às cruzadas foi feito guerreiro com seus instrumentos próprios, especialmente associado ao enfrentamento com o dragão, símbolo do mal e do demônio. A lenda mais conhecida no Ocidente é a seguinte:

Certa feita, Jorge, como militar, passou pela Líbia no norte da África. Na pequena cidade de Silene o povo vivia apavorado. Num brejo vizinho reinava terrível dragão. Se sopro era tão mortífero que ninguém podia se aproximar para mata-lo. Cobrava cada dia dois carneiros. Terminados estes, exigia vítimas humanas, escolhidas por sorteio. Um dia a sorte caiu sobre a filha do rei. Vestida de noiva foi ao encontro da morte. Eis senão quando, surge São Jorge com seu cavalo branco e com sua longa lança. Fere o dragão e domina-o. Amarra-lhe a boca com o cinto da princesa. Esta o conduz manso com um cordeiro até o centro da cidade. Todos, agradecidos, se converteram à fé crista.

É patrono da Inglaterra, já a partir de 1222, mas oficialmente só em 1347 com Eduardo III com festa solene (the St. George’s Day), da Rússia, de Portugal, da Bulgária, da Grécia, da província da Catunha e de muitas outras cidades.

Uma polêmica se instaurou quando o Vaticano em 1969 fez uma revisão da lista dos santos e retirou dela o popular São Jorge, por motivos não totalmente claros. Houve uma grita geral, especialmente, por parte da Inglaterra, da Catalunha e também do time de futebol, o Corinthians de quem é patrono. O Card. Dom Paulo Evaristo Arns, corinthiano fervoroso, intercedeu junto ao Papa Paulo VI para que mantivesse a veneração de São Jorge, ao menos como celebração optativa. Ao que o Papa respondeu: "Não podemos prejudicar nem Inglaterra nem a Nação corinthiana; prossigam com a devoção”. Em 2000 João Paulo II, com senso pastoral, restabeleceu a festa. Ele está presente nas tradições afro: Ogum para a Umbanda e Oxossi para o candomblé-nagô. No Rio, o dia 23 de abril, sua festa, é feriado municipal, pois é o patrono de fato da cidade.

No próximo artigo tentaremos decifrar o arquétipo de base que subjaz ao guerreiro São Jorge e ao dragão. Enquanto isso, fazemos nossa a oração popular: ”Andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos, não me peguem e tendo olhos não me enxerguem... E meus inimigos fiquem humildes e submissos a Vós. Amém”.

sábado, 23 de março de 2013


Papa surpreenderá com reviravolta na Igreja,
diz Leonardo Boff


O ex-sacerdote brasileiro Leonardo Boff, um dos mais destacados representantes da chamada Teologia da Libertação, acredita que o papa Francisco surpreenderá muitos dando uma reviravolta radical à Igreja.

"Agora é Papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará. Para isso, precisará de uma ruptura com as tradições, deixar para trás a Cúria corrupta do Vaticano para abrir passagem para uma Igreja universal", disse Boff em entrevista que será publicada na edição da próxima semana da revista alemã Der Spiegel.

O teólogo se disse muito satisfeito que o novo Papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, tenha assumido o nome de Francisco para seu pontificado. "Este nome é programático: Francisco de Assis representa uma Igreja dos pobres e dos oprimidos, responsabilidade perante o meio ambiente e rejeição ao luxo e a ostentação", acrescentou Boff, que pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.

O estudioso disse também que, embora em muitos aspectos - como o referente aos anticoncepcionais, o celibato e o homossexualismo - Francisco tenha seguido uma linha conservadora como cardeal, isso se deveu apenas à pressão do Vaticano. Para ele, há elementos que indicam que o novo Pontífice é muito mais liberal.

Agora é Papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará

"Há alguns meses, por exemplo, ele aprovou expressamente que um casal de homossexuais adotasse uma criança. Tem contato com sacerdotes que foram repudiados pela Igreja oficial por terem se casado. E, o mais importante, é que não se deixou separar de sua convicção que temos que estar do lado dos pobres", destacou.
Boff rejeita também as acusações que surgiram contra Francisco segundo as quais não deu suficiente apoio a dois jesuítas que foram presos durante a ditadura militar argentina.

"Conheço as acusações e acredito no que diz o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, que como opositor ao regime militar esteve preso e foi torturado. Houve bispos que foram cúmplices da ditadura, mas Bergoglio não estava entre eles", opinou. 

"Até agora, não há indícios claros de um comportamento censurável. Pelo contrário, ele escondeu e salvou muitos sacerdotes perseguidos. Conheci Orlando Yorio, um dos jesuítas que dizem terem sido traídos por Bergoglio, e nunca fez a mim tais acusações", completou.

terça-feira, 19 de março de 2013


'Carnaval acabou', disse Papa após assumir o comando da Igreja
BBCBrasil.com


Os primeiros três dias de pontificado do papa Francisco já deram ao mundo uma amostra do que vai ser ter um sacerdote jesuíta pela primeira vez na história como líder dos 1,2 bilhão de católicos no mundo. Minutos após o resultado da eleição no conclave ter sido declarado na Capela Sistina, um funcionário do Vaticano chamado de Mestre de Cerimônias ofereceu ao novo papa a tradicional capa vermelha decorada com pele que o seu antecessor, Bento 16, usava com orgulho em cerimônias importantes.

"Não, obrigado, monsenhor", teria afirmado o papa Francisco. "Você pode vesti-la. O Carnaval acabou!", disse. Esse foi apenas um pequeno sinal de muitos nestes dias de que, como comentou um dos mais ácidos colunistas italianos, Massimo Franco, do jornal Corriere Della Sera, "a era do papa-rei e da corte do Vaticano acabou".

Outro momento da verdade ocorreu quando o papa Francisco quebrou os lacres do Apartamento Papal no Palácio Apostólico para tomar posse de sua nova casa.
Funcionários do Vaticano se ajoelharam e se curvaram quando o arcebispo George Gaenswein, secretário do agora papa emérito Bento 16 e ainda chefe da casa pontifícia, procurava o interruptor de luz enquanto o papa observava imóvel a cena, na penumbra. "Há espaço para 300 pessoas aqui", ele teria dito. "Eu não preciso de todo esse espaço."

Nomeações

O novo papa ainda não deu nenhuma indicação de sua escolha para o segundo cargo na hierarquia do Vaticano, o de secretário de Estado. Claramente os cardeais e monsenhores italianos que gerenciavam o Vaticano durante o pontificado de Bento 16 gostariam de ser mantidos em seus cargos (todos os altos cargos do Vaticano expiram quando há um posto vacante na Santa Sé). Mas muitos ficarão desapontados.

O papa Francisco espera fazer suas nomeações em seu próprio ritmo e em seu próprio tempo, e deve fazer mudanças significativas em questão de semanas, conforme a lenta burocracia do Vaticano avance.

O que vem fascinando os vaticanistas é que o novo papa não tem um secretário ou assessor pessoal que o siga em todos os lados como George Gaenswein fazia com Bento 16.

Poucas horas após sua eleição, o novo papa escapou do Vaticano em um carro comum para rezar na basílica de Roma onde o fundador de sua ordem rezou séculos antes. E então pediu ao motorista que parasse no hotel para clérigos no centro onde havia se hospedado em Roma antes do conclave para pagar suas contas e tomar seus pertences. No dia seguinte ele novamente deixou o Vaticano, incógnito, para visitar um amigo doente no hospital.

O novo papa é um homem de hábitos frugais, um amigo dos pobres, na longa tradição de outro ícone da Igreja Católica, e cujo nome ele emprestou, são Francisco de Assis. Quando era bispo, ele costumava viajar por Buenos Aires em transporte público e cozinhar sua própria comida em um pequeno apartamento.

Ele já pediu aos colegas bispos da Argentina que não gastem seu dinheiro para viajar a Roma para sua cerimônia de posse, mas para doarem o dinheiro da viagem aos pobres. Por isso, as pessoas devem se preparar para algumas novas surpresas.

'Papa negro'

Os jesuítas não são somente a maior ordem religiosa na Igreja Católica, mas também a mais revolucionária. Fundada por um soldado que se tornou místico, são Inácio de Loyola, no século 16, ela tem uma tradição de rigor intelectual e espiritual que sugere que o Vaticano está prestes a passar por uma reformulação com implicações enormes para o futuro da Igreja Católica Apostólica Romana no século 21.

A Companhia de Jesus, para dar o nome oficial da ordem, apesar de proclamar sua lealdade incondicional ao papa em Roma, já esteve em vários períodos na história envolvida em atritos com a Cúria romana e foi até mesmo reprimida em várias partes do mundo, para reemergir posteriormente.

Antes do conclave, houve especulações sobre a possibilidade de o conclave escolher um cardeal africano como o primeiro papa negro da Igreja Católica.

Em vez disso, os cardeais-eleitores escolheram esse jesuíta de 76 anos cuja ordem é chefiada por um sacerdote chamado de superior geral, em homenagem à origem militar de seu fundador. Ele também é conhecido popularmente como "o Papa Negro" por conta da cor de seu hábito.

O atual líder da Companhia de Jesus é um padre espanhol, Adolfo Nicolás, cujo escritório fica em frente ao Vaticano. Ele imediatamente enviou uma mensagem de congratulações ao seu companheiro jesuíta papa Francisco após a eleição.

Vale a pena lembrar que foi um ex-"Papa Negro", o padre Hans Kolvenbach, o primeiro a quebrar a tradição de manter o cargo de superior geral até a morte, como era a tradição também com os papas. Ele renunciou ao cargo em 2008, ao completar 80 anos, sugerindo um novo precedente que os "Papas Brancos" também poderiam seguir.

quinta-feira, 14 de março de 2013

"Habemus Papam": Francisco

- Por Frei Betto



O papa  Francisco – nome adotado pelo cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio - ao ser eleito novo chefe da Igreja Católica terá pela frente difíceis desafios. O maior deles, imprimir colegialidade ao governo da Igreja e reformar a Cúria Romana.

Para mexer nesse ninho de cobras, terá de remover presidentes de congregações (que, no Vaticano, equivalem a ministérios) e nomear para dirigi-las prelados que, hoje, vivem fora de Roma e são, portanto, virtualmente imunes à influência da “famiglia curiale”, a que, de fato, exerce o poder na Igreja.

 Para modificar a estrutura monárquica da Igreja, Francisco terá de repensar o estatuto das nunciaturas, valorizar as conferências episcopais e o sínodo dos bispos e, quem sabe, criar novas instituições, como um colégio de leigos capaz de representar a Igreja como Povo de Deus, e não como sociedade clericalizada pretensamente perfeita.

 Não será surpresa se, em breve, o novo papa promover o seu primeiro consistório, elevando ao cardinalato bispos e arcebispos dos cinco continentes (e talvez até padres e leigos, os chamados “cardeais in pectore”, que não são de conhecimento público).

 Tal iniciativa deverá incluir o atual arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta. Paira certa incongruência no fato de a arquidiocese carioca não ter, há anos, cardeal titular, como há em São Paulo. Sobretudo considerando que o Rio acolherá, em julho próximo, a Jornada Mundial da Juventude, à qual o novo pontífice estará presente.

A imagem da Igreja Católica está manchada, hoje, por escândalos sexuais e falcatruas financeiras. Não se espere do novo papa atitudes ousadas enquanto Bento XVI lhe fizer sombra na área do Vaticano. Mas seria uma irresponsabilidade o papa Francisco não abrir, no interior da Igreja, o debate sobre a moral sexual.

Nesse tema, são muitas as questões a serem aprofundadas, a começar pela seleção dos candidatos ao sacerdócio. Já há uma instrução de Roma aos bispos para que não sejam aceitos jovens notoriamente afeminados – o que me parece uma discriminação incompatível com os valores evangélicos. Equivale a impedir o ingresso na carreira sacerdotal de candidatos heterossexuais dotados de uma masculinidade digna de Don Juan.

O problema não é questão de aparência, e sim de vocação. Se a Igreja pretende ampliar o número de padres terá que, necessariamente, retomar o padrão dos seus primeiros séculos e distinguir vocação ao sacerdócio de vocação ao celibato.
 
Aqueles que se sentem em condições de se abster de vida sexual (já que apenas aos anjos é dado prescindir da sexualidade) devem abraçar a via monástica, religiosa, ainda que alguns se tornem sacerdotes para o serviço comunitário. Já ao clero diocesano seria facultado escolher a vida matrimonial, como ocorre hoje nas Igrejas ortodoxa e anglicana, e com os pastores de Igrejas protestantes.

O caminho mais curto e mais sábio seria o papa admitir a reinserção de padres casados no ministério sacerdotal. Eles são milhares. No mundo, calcula-se cerca de 100 mil; no Brasil, 5 mil. Muitos gostariam de voltar ao serviço pastoral com direito a administrar sacramentos e celebrar missa.

 A medida mais inovadora seria permitir o acesso de mulheres ao sacerdócio. Não há precedente na história da Igreja, exceto em países socialistas onde, clandestinos, bispos despreparados ordenaram mulheres cujo sacerdócio, ao vir a lume, não foi reconhecido por Roma.

Nos evangelhos há mulheres notoriamente apóstolas, embora não figurem na lista canônica dos doze apóstolos. Em Lucas 8, 1, constam os nomes de mulheres pertencentes à comunidade apostólica de Jesus: Maria Madalena, Joana, Susana “e várias outras”. 

 A samaritana (João 4) foi apóstola, no sentido rigoroso do termo – a primeira pessoa a anunciar Jesus como o Messias. E Maria Madalena, a primeira testemunha da ressurreição de Jesus.

Facultar às mulheres o acesso ao sacerdócio implica modificar um dos pontos mais anacrônicos da ortodoxia católica, que ainda hoje considera a mulher ontologicamente inferior ao homem. É a famosa pergunta em aula de teologia: pode o escravo se tornar padre? Sim, desde que liberto, pois como homem goza da plenitude humana. Já a mulher, ser inferior ao homem, está excluída desse direito, pois não goza da plenitude humana.

Outros desafios se apresentam ao novo papa, como o diálogo inter-religioso. Nos últimos pontificados Roma deu passos significativos para melhorar as relações do catolicismo com o judaísmo, levando o papa a visitar o Muro das Lamentações, em Jerusalém, e isentando os judeus da pecha de assassinos de Jesus.

No entanto, retrocedeu quanto à relação com os muçulmanos. Em sua visita à Universidade de Regensburg, na Alemanha, em 2006, Bento XVI cometeu a infelicidade de citar uma história do século XIV em que o imperador bizantino pede a um persa que lhe mostre "o que Maomé trouxe de novo, e você só encontrará coisas más e desumanas, como sua ordem de espalhar pela espada a fé que pregava". Embora a intenção do papa fosse condenar o uso da violência pela religião – no qual a Igreja da Inquisição foi mestra – a comunidade islâmica, com razão, se sentiu ofendida.
 
Ao visitar os EUA, em 2008, Bento XVI esteve numa sinagoga de Nova York, sem, no entanto dirigir-se a uma mesquita, o que teria demonstrado sua imparcialidade e abertura à diversidade religiosa, além de combater o preconceito estadunidense de que muçulmano rima com terrorista.

Há que aprofundar o diálogo com as religiões do Oriente, como o budismo e as tradições espirituais da Índia. E buscar melhor aproximação com os cultos animistas da África e os ritos indígenas da América Latina.

É chegada a hora de a Igreja Católica admitir a pertinência das razões que provocaram sua ruptura com as Igrejas Ortodoxas e a de Lutero com Roma. E, num gesto ecumênico, buscar a unidade na diversidade, de modo a testemunharem uma única Igreja de Cristo.

Convém reconhecer, como propõe o Concilio Vaticano II, que as sementes do Evangelho vigoram também em denominações religiosas não cristãs, ou seja, fora da Igreja Católica há sim salvação.

 O papa Francisco terá que optar entre os três dons do Espírito Santo oferecidos aos discípulos de Jesus: sacerdote, doutor ou profeta. A ser um sacerdote como João Paulo II, teremos uma Igreja voltada a seus próprios interesses como instituição clerical, com leigos tratados como ovelhas subservientes e desconfiança frente aos desafios da pós-modernidade.

 A ser um doutor como Bento XVI, o novo pontífice reforçará uma Igreja mais mestra do que mãe, na qual a preservação da doutrina tradicional importará mais do que encarnar a Igreja nos novos tempos em que vivemos, incapaz de ser, como São Paulo, “grego com os gregos e judeu com os judeus”.

 Assumindo seu múnus profético, como João XXIII, o papa Francisco se empenhará numa profunda reforma da Igreja, para que nela transpareça a palavra e o testemunho de Jesus, no qual Deus se fez um de nós.

 “Habemus papam!” Já sabemos quem: Francisco. É a primeira vez na história que um papa adota o nome daquele que sonhou que a Igreja desabava e cabia a ele reconstruí-la. O tempo dirá a que veio.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Crescer para ser feliz


Ninguém é feliz todos os dias. Há dias nos quais levantamos, mas parece que tudo em nós gostaria de ter ficado na cama. Há dias nos quais nossos corações parecem estar nublados, somente nuvem, chuva e frio.

Sentimo-nos desanimados, e achando-nos o pior de todos os mortais. Dias de fastio da alma, uma certa náusea da vida, um enjoo da existência. Tudo fica muito rotineiro, o novo tornar-se velho, o belo, comum, a alegria se despedaça em pequenos fragmentos de tristeza, parece que a felicidade escorreu pelo ralo da nossa vida.

Se este é um dos seus dias, você saberá exatamente do que estou falando. É sempre assim, somos mais capazes de compreender a dor ou a alegria quando passamos por elas. 

Contudo, esteja como estiver o seu dia hoje, é bom lembramos algumas verdades.
Existe dentro de nós uma imensa sede de felicidade e bem-estar. Tudo quanto fazemos na vida, desde o mínimo detalhe, até a coisa mais complicada,  é em busca desta felicidade. Daí nossa dificuldade de lidar com esses dias nos quais a felicidade parece ter desaparecido.

Infelizmente, o alvo consciente ou inconsciente da nossa vida tem sido a felicidade. Mas este não é o alvo de Deus para sua vida. Neste dia, quem sabe infeliz para você, Deus quer que você olhe para um outro alvo da vida. O alvo de Deus para você é o crescimento. Isto não significa que Deus não queira sua felicidade, apenas quer alertar para o fato de que a felicidade é uma conseqüência do seu crescimento.

Crescer, desenvolver nossa maturidade, desenvolver nosso potencial, este é o alvo primeiro de Deus para mim e para você. Sem crescimento não haverá felicidade. Se não crescermos, viveremos como crianças desfrutando das pequenas alegrias que os nossos brinquedos nos dá, mas jamais experimentaremos a real felicidade que vem dele.

Todo crescimento passa pela dor. A dor é o sinal de uma nova vida, é o prenúncio de uma nova experiência, é o grito de um novo ser nascendo em nós. Sem dor não haverá crescimento, sem crescimento, novamente, não haverá felicidade.

Neste dia quem sabe de dores, você pode não estar se sentindo feliz, mas você pode estar crescendo. Saiba que apesar das dores de hoje, o crescimento virá e com ele a felicidade que você tanta almeja.

EDUARDO ROSA PEDREIRA é pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca e professor da Fundação Getúlio Vargas.

domingo, 24 de fevereiro de 2013


Quer ser uma pessoa mais ou menos?
Pensamentos de Psiquismo Desmistificado

"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.



A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

 TUDO BEM!

 O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...

é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.

 ”Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.”

Chico Xavier