sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Entender as leis de Jesus

Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Era a melhor prenda que tinham recebido de Deus. Em todas as sinagogas guardavam-na com veneração dentro de um cofre depositado num lugar especial. Nessa Lei podiam encontrar tudo quanto necessitavam para ser fiéis a Deus.
Jesus, no entanto, não vive centrado na Lei. Não se dedica a estudá-la nem a explicá-la aos Seus discípulos. Não se O vê nunca preocupado por observá-la de forma escrupulosa. Certamente, não coloca em marcha una campanha contra a Lei, mas esta não ocupa já um lugar central no Seu coração.
Jesus procura a vontade de Deus a partir de outra experiência diferente. Sente Deus tratando de abrir caminho entre os homens para construir com eles um mundo mais justo e fraterno. Isto muda tudo. A lei não é já o decisivo para saber que espera Deus de nós. O primeiro é "procurar o reino de Deus e a Sua justiça".
Os fariseus e os letrados preocupam-se em observar rigorosamente as leis, mas desleixam o amor e a justiça. Jesus esforça-se por introduzir nos Seus seguidores outro perfil e outro espírito: «se a vossa justiça não é melhor que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino de Deus». Há que superar o legalismo que se contenta com o cumprimento literal das leis e normas.
Quando se procura a vontade do Pai com a paixão com que a procura Jesus, vai-se sempre mais longe do que dizem as leis. Para caminhar para esse mundo mais humano que Deus quer para todos, o importante não é contar com pessoas observantes de leis, mas com homens e mulheres que se pareçam a Ele.
Aquele que não mata, cumpre a Lei, mas se não arranca do seu coração a agressividade para com o Seu irmão, não se parece a Deus. Aquele que não comete adultério cumpre a Lei, mas se deseja egoisticamente a esposa do seu irmão não se assemelha a Deus. Nestas pessoas reina a Lei, mas não Deus; são observantes, mas não sabem amar; vivem corretamente, mas não construíram um mundo mais humano.
Temos de escutar bem as palavras de Jesus: «Não vim abolir a Lei e os profetas, mas dar plenitude». Não veio atirar por terra o patrimônio legal e religioso do antigo testamento. Veio para «dar plenitude», a alargar o horizonte do comportamento humano, a libertar a vida dos perigos do legalismo.
O nosso cristianismo será mais humano e evangélico quando aprendermos a viver as leis, normas, preceitos e tradições como os vivia Jesus: procurando esse mundo mais justo e fraterno que quer o Pai.

Autor: José Antonio Pagola


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