'Carnaval acabou', disse Papa após
assumir o comando da Igreja
BBCBrasil.com
Os primeiros três dias de pontificado do papa
Francisco já deram ao mundo uma amostra do que vai ser ter um sacerdote jesuíta
pela primeira vez na história como líder dos 1,2 bilhão de católicos no mundo.
Minutos após o resultado da eleição no conclave ter sido declarado na Capela
Sistina, um funcionário do Vaticano chamado de Mestre de Cerimônias ofereceu ao
novo papa a tradicional capa vermelha decorada com pele que o seu antecessor,
Bento 16, usava com orgulho em cerimônias importantes.
"Não,
obrigado, monsenhor", teria afirmado o papa Francisco. "Você pode
vesti-la. O Carnaval acabou!", disse. Esse foi apenas um pequeno sinal de
muitos nestes dias de que, como comentou um dos mais ácidos colunistas
italianos, Massimo Franco, do jornal Corriere Della Sera, "a era do
papa-rei e da corte do Vaticano acabou".
Outro
momento da verdade ocorreu quando o papa Francisco quebrou os lacres do
Apartamento Papal no Palácio Apostólico para tomar posse de sua nova casa.
Funcionários
do Vaticano se ajoelharam e se curvaram quando o arcebispo George Gaenswein,
secretário do agora papa emérito Bento 16 e ainda chefe da casa pontifícia,
procurava o interruptor de luz enquanto o papa observava imóvel a cena, na
penumbra. "Há espaço para 300 pessoas aqui", ele teria dito. "Eu
não preciso de todo esse espaço."
Nomeações
O novo papa
ainda não deu nenhuma indicação de sua escolha para o segundo cargo na
hierarquia do Vaticano, o de secretário de Estado. Claramente os cardeais e
monsenhores italianos que gerenciavam o Vaticano durante o pontificado de Bento
16 gostariam de ser mantidos em seus cargos (todos os altos cargos do Vaticano
expiram quando há um posto vacante na Santa Sé). Mas muitos ficarão desapontados.
O papa
Francisco espera fazer suas nomeações em seu próprio ritmo e em seu próprio
tempo, e deve fazer mudanças significativas em questão de semanas, conforme a
lenta burocracia do Vaticano avance.
O que vem
fascinando os vaticanistas é que o novo papa não tem um secretário ou assessor
pessoal que o siga em todos os lados como George Gaenswein fazia com Bento 16.
Poucas horas
após sua eleição, o novo papa escapou do Vaticano em um carro comum para rezar
na basílica de Roma onde o fundador de sua ordem rezou séculos antes. E então
pediu ao motorista que parasse no hotel para clérigos no centro onde havia se
hospedado em Roma antes do conclave para pagar suas contas e tomar seus
pertences. No dia seguinte ele novamente deixou o Vaticano, incógnito, para
visitar um amigo doente no hospital.
O novo papa
é um homem de hábitos frugais, um amigo dos pobres, na longa tradição de outro
ícone da Igreja Católica, e cujo nome ele emprestou, são Francisco de Assis.
Quando era bispo, ele costumava viajar por Buenos Aires em transporte público e
cozinhar sua própria comida em um pequeno apartamento.
Ele já pediu
aos colegas bispos da Argentina que não gastem seu dinheiro para viajar a Roma
para sua cerimônia de posse, mas para doarem o dinheiro da viagem aos pobres.
Por isso, as pessoas devem se preparar para algumas novas surpresas.
'Papa negro'
Os jesuítas
não são somente a maior ordem religiosa na Igreja Católica, mas também a mais
revolucionária. Fundada por um soldado que se tornou místico, são Inácio de Loyola,
no século 16, ela tem uma tradição de rigor intelectual e espiritual que sugere
que o Vaticano está prestes a passar por uma reformulação com implicações
enormes para o futuro da Igreja Católica Apostólica Romana no século 21.
A Companhia
de Jesus, para dar o nome oficial da ordem, apesar de proclamar sua lealdade
incondicional ao papa em Roma, já esteve em vários períodos na história
envolvida em atritos com a Cúria romana e foi até mesmo reprimida em várias
partes do mundo, para reemergir posteriormente.
Antes do
conclave, houve especulações sobre a possibilidade de o conclave escolher um
cardeal africano como o primeiro papa negro da Igreja Católica.
Em vez
disso, os cardeais-eleitores escolheram esse jesuíta de 76 anos cuja ordem é
chefiada por um sacerdote chamado de superior geral, em homenagem à origem
militar de seu fundador. Ele também é conhecido popularmente como "o Papa
Negro" por conta da cor de seu hábito.
O atual
líder da Companhia de Jesus é um padre espanhol, Adolfo Nicolás, cujo escritório
fica em frente ao Vaticano. Ele imediatamente enviou uma mensagem de
congratulações ao seu companheiro jesuíta papa Francisco após a eleição.
Vale a pena
lembrar que foi um ex-"Papa Negro", o padre Hans Kolvenbach, o
primeiro a quebrar a tradição de manter o cargo de superior geral até a morte,
como era a tradição também com os papas. Ele renunciou ao cargo em 2008, ao
completar 80 anos, sugerindo um novo precedente que os "Papas
Brancos" também poderiam seguir.
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