sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quaresma



Como viver bem esse tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola?

Neste tempo especial de graças que é a Quaresma devemos aproveitar ao máximo para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. O Apóstolo São Paulo insistia: "Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!" (2 Cor 5, 20); "exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação." (2 Cor 6, 1-2).
Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.
Na Quarta-Feira de Cinzas, quando ela começa, os sacerdotes colocam um pouquinho de cinzas sobre a cabeça dos fiéis na Missa. O sentido deste gesto é de lembrar que um dia a vida termina neste mundo, "voltamos ao pó" que as cinzas lembram. Por causa do pecado, Deus disse a Adão: "És pó, e ao pó tu hás de tornar". (Gênesis 2, 19)
Este sacramental da Igreja lembra-nos que estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade, sem fim, começa depois da morte; e que, portanto, devemos viver em função disso. As cinzas humildemente nos lembram que após a morte prestaremos contas de todos os nossos atos, e de todas as graças que recebemos de Deus nesta vida, a começar da própria vida, do tempo, da saúde, dos bens, etc.
Esses quarenta dias devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola ('remédios contra o pecado'). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.
Na Oração da Missa de Cinzas a Igreja reza: "Concedei-nos ó Deus todo poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma para que a penitência nos fortaleça contra o espírito do Mal".
Sabemos como devemos viver, mas não temos força espiritual para isso. A mortificação fortalece o espírito. Não é a valorização do sacrifício por ele mesmo, e de maneira masoquista, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz; é um meio, não um fim.
Quaresma é um tempo de "rever a vida" e abandonar o pecado (orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ganância, pornografia, sexismo, gula, ira, inveja, preguiça, mentira, etc.). Enfim, viver o que Jesus recomendou: "Vigiai e orai, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca".
Embora este seja um tempo de oração e penitência mais profundas, não deve ser um tempo de tristeza, ao contrário, pois a alma fica mais leve e feliz. O prazer é satisfação do corpo, mas a alegria é a satisfação da alma.
Santo Agostinho dizia que "o pecador não suporta nem a si mesmo", e que "os teus pecados são a tua tristeza; deixa que a santidade seja a tua alegria". A verdadeira alegria brota no bojo da virtude, da graça; então, aQuaresma nos traz um tempo de paz, alegria e felicidade, porque chegamos mais perto de Deus.
Para isso podemos fazer uma confissão bem feita; o meio mais eficaz para se livrar do pecado. Jesus instituiu a confissão em sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (Jo 20,22) dizendo-lhes: "a quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados". Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência.
Jesus quis que nos confessemos com o sacerdote da Igreja, seu ministro, porque ele também é fraco e humano, e pode nos compreender, orientar e perdoar pela autoridade de Deus. Especialmente aqueles que há muito não se confessam, têm na Quaresma uma graça especial de Deus para se aproximar do confessor e entregar a Cristo nele representado, as suas misérias.
Uma prática muito salutar que a Igreja nos recomenda durante a Quaresma, uma vez por semana, é fazer o exercício da Via Sacra, na igreja, recordando e meditando a Paixão de Cristo e todo o seu sofrimento para nos salvar. Isto aumenta em nós o amor a Jesus e aos outros.
Não podemos esquecer também que a Santa Missa é a prática de piedade mais importante da fé católica, e que dela devemos participar, se possível, todos os dias da Quaresma. Na Missa estamos diante do Calvário, o mesmo e único Calvário. Sim, não é a repetição do Calvário, nem apenas a sua "lembrança", mas a sua "presentificação"; é a atualização do Sacrifício único de Jesus. A Igreja nos lembra que todas as vezes que participamos bem da Missa, "torna-se presente a nossa redenção".
Assim podemos viver bem a Quaresma e participar bem da Páscoa do Senhor, enriquecendo a nossa alma com as suas graças extraordinárias; podendo ser melhor e viver melhor.

Felipe Aquino

  

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Curai os Enfermos

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

No dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes, a Igreja celebrou também o Dia Mundial do Enfermo. Em Lourdes, com as aparições de Nossa Senhora a S. Bernardete surgiu uma fonte para onde verdadeiras multidões de pessoas já acorreram para procurar a cura de suas doenças.
Certamente, a comemoração do Dia Mundial do Enfermo na festa de Nossa Senhora de Lourdes está relacionada com esse dado. Na Europa, ainda hoje, partem “trens-enfermaria” de muitos lugares com destino a Lourdes, levando doentes de todo tipo, acompanhados durante essa viagem para a “fonte da saúde”, aos pés de Nossa Senhora, por médicos, enfermeiros e voluntários em grande número.
Todos os anos, o Papa emite uma bela Mensagem para o Dia mundial do Enfermo. Neste ano, ao mesmo tempo em que a Mensagem é confortadora para os enfermos, ela se refere aos “Sacramentos da Cura” – Penitência, ou Reconciliação, e Unção dos Enfermos. Partindo da cura dos dez leprosos e da palavra – “vai, a tua fé te salvou” - dita por Jesus àquele único, que voltou para agradecer a Jesus por sua cura (cf Lc 17,11-19), o Papa fala da importância da fé em Deus para aqueles que se encontram nas angústias do sofrimento e da enfermidade.
As fragilidades da saúde abrem o coração mais facilmente para Deus, fazem experimentar os limites e procurar o Senhor da vida. No encontro com Ele, o doente pode ter a certeza de não estar sozinho, abandonado à própria sorte. Deus está próximo de todos nós e nos envolve com sua paternal providência; mas o doente pode perceber ainda melhor que, em suas angústias e sofrimentos, o “Bom Samaritano” ajuda a quem está caído a se levantar, a carregar e suportar seu fardo. Em Deus, a fragilidade humana encontra amparo: “teu bastão e teu cajado me dão segurança!” (Sl 22).
Bento XVI chama a atenção para a missão religiosa específica dos Ministros da Igreja em relação aos doentes e à cura dos “corações atribulados”. O Sacramento da Penitência, ou Reconciliação, é um dos Sacramentos da Cura, e oferece às pessoas a possibilidade de restaurar as dilacerações da alma, provocadas pelo pecado. Graças à misericórdia de Deus, buscada e acolhida através desse Sacramento, a experiência do pecado não degenera em desespero, mas encontra o Amor que perdoa e transforma.
O Sacramento da Unção dos Enfermos faz prolongar na vida e na ação da Igreja aquele amor atencioso, compassivo e delicado de Jesus em relação aos doentes, que se aproximavam dele em grande número. Por este Sacramento, os doentes são ajudados a viver na dimensão da fé o tempo da enfermidade, que não deve ser um tempo desperdiçado na vida, pois tem enorme valor e fecundidade, quando vivido no horizonte da fé em Deus. Mediante a Unção dos Enfermos, acompanhada pela oração dos sacerdotes, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, a fim de que alivie suas penas e os salve; e exorta os próprios enfermos a unirem-se espiritualmente à paixão e morte de Jesus, para contribuir, deste modo, para o bem do Povo de Deus.
O Papa exorta a Igreja a valorizar mais, tanto na reflexão teológica como na prática pastoral, a Unção dos Enfermos, que não deve ser considerado como um “Sacramento menor” em relação aos demais; é necessário valorizar mais as diversas situações humanas ligadas à doença, e não apenas o fim da vida, relacionando-as com os conteúdos da fé, do amor e da esperança cristã. E o Papa aponta também para a importância da Eucaristia para os doentes, que podem, através de sua acolhida, associar-se mais estreitamente ao Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
“Saúde”, finalmente, relaciona-se com a plenitude de vida e a salvação eterna das pessoas. Como cristãos, devemos estar atentos a não deixar que as pessoas enfermas e próximas da morte sejam confiadas apenas aos serviços técnicos dos profissionais da saúde – que também não devem faltar. Nesta hora, não devem faltar a assistência e o conforto da fé para quem se encontra diante da grande decisão de sua vida, antes de apresentar-se diante de Deus. As comunidades católicas estejam, por isso, muito atentas para que não faltem as palavras da fé e o “Pão da Vida”, para aqueles que dele tanto necessitam!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Canções que nada dizem


Não há canções que nada dizem. Alguma coisa elas dizem, para quem as compôs, para quem as canta e para quem as repete. Podem não dizer nada para mim e pra você que temos outros gostos, outra cultura, outra fé e outras informações. Também não gostamos de certos sucos, certos alimentos e certas bebidas. Outros gostam! Se fazem bem ou mal, depende de cada organismo. A nós talvez não façam bem. Não digerimos como eles digerem! 

Diga-se o mesmo de sambas, rocks e marchas, de ritmos de ontem, da música Disco, ou de como Beatles, Abba, Michael Jackson e Madonna. Há quem goste e detecte uma mensagem onde não detectamos. Rap, reggae, afro, clássico, hip hop são gêneros que dizem algo a algum grupo. Mas se quiserem trazê-lo para a liturgia é hora de enfrentá-los. Se nos enfrentam, sejam enfrentados! 

Porque, uma coisa é a música que nos agrada e outra, a música de igreja que por definição não nos pertence. Um compositor de música religiosa supostamente é chamado a servir à catequese da sua igreja. Então, sua canção não pode servir apenas a um movimento, nem a uma só linha de espiritualidade. Se for o caso, não a cante numa missa onde há outros grupos, ou em qualquer encontro, pois seria impor sua maneira de pensar aos demais. A música religiosa tem que dizer o que a Igreja espera que seja dito em seus cultos e concentrações. Nem mesmo a letra nos pertencerá. Por isso, alguém mais abalizado precisa opinar sobre o que cantamos para todos os católicos. 

O recado serve para músicos franciscanos, salesianos, dehonianos, da RCC, ou vicentinos. Há canções típicas de nossa linha de espiritualidade, cantáveis em nossos lugares de oração. Há outras, mais abrangentes, feitas para todos os católicos. Precisam transmitir a catequese de todos. Estas tem outro destino. 

Leio algumas letras não religiosas e outras religiosas. Duas delas dizem egocentricamente: -"Preciso de um alguém que me dê o seu amor, que seja só para mim e que me faça feliz. Quero o amor mais sincero do jeito que eu o quero/do jeito que eu sempre quis E então eu serei feliz". 

"Hei de amar somente a Deus, o resto pra mim é nada. Só a Deus eu amarei." 

Uma Igreja cristã não pode assinar em baixo dessas duas canções, nem cantá-las porque são egoístas. Os autores pensaram apenas em si ao escrevê-las. Esqueceram que seriam cantadas para outras pessoas. No seu bojo tais canções traem fechamento. São dois gritos egoístas, ainda que uma delas seja supostamente religiosa. Falta nelas o essencial do que se entende por amor cristão: o amor ao próximo e nosso dever de também amá-lo. 

Canções sempre dizem alguma coisa, mas canções religiosas não podem negar o catecismo. Por natureza, estão sujeitas à censura. Se uma palavra dela nega uma doutrina, a autoridade mande corrigi-la, cantar diferente ou, simplesmente, não mais cantá-la. Não basta ser bonita e fazer bem à banda que a executa. Tem que ser mensagem da Igreja. Se alguém insiste nela, já que fundou uma banda, funde também sua própria igreja! Mas, então, não a considere igreja cristã... 

Pe. Zezinho, scj