sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Coração de Águia...



 «Considero-me como débil passarinho coberto de leve plumagem. Não sou águia; só tenho dela os olhos e o coração, mas apesar da minha extrema pequenez, atrevo-me a olhar fixamente para o Sol divino, o Sol do amor, e o meu coração sente em si todas as aspirações da águia.

O passarinho quisera voar até esse brilhante sol que fascina seus olhos. Que será dele? Morrerá de dor vendo-se impotente? Oh não! O passarinho nem sequer chega a afligir-se. Com um abandono audaz quer continuar a olhar fixamente para o seu divino sol. Nada o assusta, nem o vento nem a chuva. Se nuvens escuras vêm ocultar o Astro do Amor, o passarinho não muda de lugar; sabe que além das nuvens o seu Sol continua a brilhar, que o seu esplendor não poderá eclipsar-se nem um só momento» (1)
Somos apenas um pardal, mas temos coração de águia. Este é o mistério terrível e contraditório do homem: sentir-se, ao mesmo tempo, pardal e águia; ter um coração de águia e asas de pardal.
Que fazer? Sei que não posso voar tão alto. Nem tentarei. Nem sequer baterei as asas; entregar-me-ei às asas do vento; o vento é Deus. O resto fá-lo Ele. Sei que sou um pardal, mas sei também que, com uma grande paz, me entrego a Deus. Ele pode emprestar-me poderosas asas de águia. Haverá alguma coisa impossível para Ele?
Sei que sou um montão de ruínas e desolação; mas sei também que, se me entrego a Deus, Ele pode transformar-me numa mansão deslumbrante. Ele é Poder e Graça.»


Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

sábado, 21 de janeiro de 2012

Unidade: Ideal de Cristo

Dom Gil Antônio Moreira 
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Um dos mais fervorosos pedidos de Cristo na oração foi que todos encontrem meios para superar as diferenças e promovam a unidade. A união é expressão do amor, enquanto a desunião é fruto do mal. No evangelho de João, Jesus repete por três vezes o mesmo pedido: “Pai que todos sejam um, como eu e Tu!” (cf. Jo.17, 21 ss).  Em Pentecostes, quando veio o Espírito Santo sobre os discípulos, reunidos em Jerusalém, 50 dias após a ressurreição do Senhor, estavam presentes os Apóstolos, a Mãe de Jesus, e um bom número de outros, conforme a Sagrada Escritura ( cf. Atos dos Apóstolos, 1, 1 ss).  A manifestação extraordinária do Espírito Santo era esperada, mesmo porque sua ordinária presença é uma realidade para aqueles que crêem.    O  Espírito Santo é força de unificação como expressa Paulo aos Coríntios:  Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo.  Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. (ICor.12,3). Após a extraordinária experiência mística daquela manhã, os Apóstolos saíram anunciando Jesus Cristo como Filho de Deus feito homem que fora morto pelo poder constituído, ressuscitara, estava vivo e não podia mais morrer. A informação bíblica diz que a pregação era tão convincente que cada um, mesmo estrangeiro, os entedia em sua própria língua. É a linguagem unificadora do amor autêntico, aquele que vem de Deus. Com o Pentecostes, nasce propriamente a Igreja fundada por Cristo. O Senhor já havia previsto isto aos discípulos quando, ressuscitado, sentou-se com eles à mesa mais uma vez e disse: recebereis o Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e na Samaria e até as extremidades da terra. (At.1,8)
Hoje, após dois mil anos, contudo, os cristãos experimentam dolorosa desunião, organizados em várias igrejas e seitas. A realidade provoca preocupação a todos. Porém, há um consolo. Atualmente, os esforços em busca da unidade perdida são fortes; o diálogo entre os grupos abertos à compreensão é um fato. Na Europa e em outras partes do mundo, nesta semana de janeiro, se celebra a jornada de orações pela união dos cristãos. No Brasil, tal movimento é realizado, todos os anos, na semana que precede a festa de Pentecostes. Com orações pessoais, com a oração litúrgica são realizados encontros em igrejas de diferentes tradições por católicos e não católicos. O Conselho Mundial das Igrejas Cristãs e os Conselhos Nacionais, fundados por não católicos, conta com a participação efetiva da Igreja Católica e de várias outras Igrejas, num clima de serena e sincera fraternidade. Movimentos como o dos Focolares, a Comunidade de Tezé, Mofic e outros espalham o ideal da unidade desejada por Cristo, sempre com a humildade de reconhecer falhas humanas, mas muito mais voltados para aspectos comuns que mantém, ao menos parcialmente unidos, os atuais discípulos do Senhor.
A força do Espírito também garante aos cristãos que as adversidades provocadas pela iniqüidade não serão capazes de ameaçar a Igreja e muito menos a pessoa de Cristo, Filho de Deus, vencedor da morte. Ele já havia dito ao chefe dos Apóstolos: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt.16,18) Infelizmente, vez por outra, surgem na história vozes contrárias com objetivo de agredir, desvirtuar, confundir e não raro com o desejo de desconstruir o ideal do amor projetado pelo Pai, comunicado por Jesus.     Não tenhamos medo. Um dos títulos do Espírito Santo é iluminador das mentes, luz dos corações. Seja Ele a claridade para todos, a fim que unidos propaguemos o bem e seja o mal vencido para sempre.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Amigos por algum tempo



Lembra-se daqueles amigos e amigas de bares, restaurantes, rodinhas de samba e de conversas que não conseguiam viver sem você, nem você sem eles? Que fim levaram aqueles sentimentos? 

Por culpa sua talvez, ou deles; por culpa de interesses outros, eles foram fazendo novas amizades e enturmando-se com outros e outras. Esqueceram você. Mas a verdade é que você também os esqueceu. 

Pararam de mandar e-mails, de telefonar, se querer se ver e alguma coisa foi esfriando. Restou o carinho. Você é grato por aqueles encontros, mas já não se vê procurando-os nem eles ou elas a você. 

Ponha esta experiência na conta das circunstâncias. Família nova, trabalhos, outros interesses, pessoas novas entraram nas suas vidas e o que durou alguns anos ainda existe, mas não com a mesma intensidade. Quando se encontrarem será maravilhoso, anotarão telefones e endereços, prometerão novos encontros, mas ficará tudo por isso mesmo, porque distância, tempo e afazeres às vezes separam amigos até então inseparáveis. 

Filosofemos um pouco... O efêmero faz parte da vida. Poucas amizades se mantêm as mesmas pela vida afora. A maioria sofrerá distanciamentos e reajustes. Se você tem algum amigo, uma amiga ou alguém especial que há mais de quinze anos o procura e gosta de ser procurado para mais uma rodada de conversas, risos e correção de dados, agradeça a Deus por este alguém. Ele atravessou os tempos com você. E isso é coisa rara e dom do céu! Amigos são como anjos daqui: estão por perto mesmo que não os notemos, trazem sempre uma nova mensagem, ou atualizam a de sempre cada vez que os encontramos... Mas são humanos e, por isso, são anjos que vão e que vêm... Adote os dois tipos: os que ficaram e o que foram sem de fato ter ido! 

Pe. Zezinho, scj

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

São Sebastião do Rio de Janeiro

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro se irmana para celebrar a Trezena de seu padroeiro, que, neste ano de 2012, terá como tema: “SÃO SEBASTIÃO, jovem discípulo de Jesus Cristo”.
Houvemos por bem escolher esta temática para que toda a nossa cidade, vicariatos, foranias, paróquias, capelas, redes de comunidade e os fiéis em geral se conscientizem acerca da importância da mobilização da nossa juventude em torno da JMJ Rio 2013, que será realizada em nossa cidade e Arquidiocese entre os dias 23 a 28 de julho de 2013. É também o Ano do Discipulado, de acordo com as conclusões do Plano de Pastoral. Todos somos chamados ao seguimento de Jesus Cristo, que deve ser o fim e a fonte de nossa vida, recomeçando sempre por Ele.
Por si só, São Sebastião, jovem soldado do Império Romano, usou de toda a sua energia para confessar a sua fé. Foi por causa da sua convicção em Jesus Cristo que ele foi martirizado, recebendo flechadas, que não fizeram com que ele abdicasse da fé, ao contrário, que ele retornasse diante do seu primeiro algoz e reafirmasse que ele, de maneira solene e pública, reafirmava que acreditava e seguia Jesus Cristo, morto e ressuscitado, que está presente no meio de nós!
Quando no ciclo anual a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, "proclama o mistério pascal" naqueles e naquelas "que sofreram com Cristo e estão glorificados com Ele, e propõe seu exemplo aos fiéis para que atraia todos ao Pai, por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus".
São Sebastião foi um mártir que morreu por ódio à fé católica. O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Enfrenta a morte num ato de fortaleza.
Assim, em honra do Mártir São Sebastião, participaremos da trezena em preparação à sua festa que iremos, solenemente, celebrar no próximo dia 20 de janeiro. Trezena significa treze dias seguidos de intensa oração, de participação do trezenário com as orações, os pedidos, as súplicas, a ladainha em honra de São Sebastião, pedindo ao Santo Mártir que ele nos proteja contra a peste, a fome e a guerra, e pedindo, acima de tudo, proteção e paz para a cidade do Rio de Janeiro, que nasceu sob o signo da fé católica, protegida por São Sebastião.
A nossa cidade do Rio de Janeiro necessita, também, muito voltar os seus olhares para o Cristo Redentor! Contemplamos nos últimos doze meses muitos avanços na área da segurança pública, no controle da criminalidade, na busca de soluções para os problemas que afligem as pessoas mais carentes dos bairros mais distantes. Mas devemos caminhar muito ainda na melhoria da condição de emprego e renda, de saneamento básico, de água encanada e de luz elétrica, que, por motivos alheios à vontade de muitos moradores, ainda não existem em muitos bairros de nossa cidade.
Nós queremos, com o trezenário de São Sebastião, levar a mensagem central da vida e do testemunho de “nosso” santo aos moradores e fiéis de todos os recantos da cidade, particularmente aos jovens. A exemplo de São Sebastião queremos anunciar que é possível não ter medo e não ter vergonha de viver a fé católica. A Igreja Católica tem uma presença fundamental, desde o início, na constituição e na formação da cidade do Rio de Janeiro e de todas as suas regiões. São obras sociais, como creches, asilos, escolas, orfanatos, escolas profissionalizantes, além da formação social, política, ética e moral que os valores do Evangelho e o exemplo de São Sebastião nos irmanam a lutar por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
Assim, eu quero convidar todos os fiéis de nossa Arquidiocese, de todos os lugares e estabelecimentos, eclesiais, públicos e particulares, em que a imagem peregrina de São Sebastião irá passar para se prepararem condignamente, acorrendo às carreatas, procissões pelas ruas, bairros e vielas de nossa metrópole, a fim de reafirmamos a nossa fé em Cristo e a nossa profunda admiração e confiança por São Sebastião, padroeiro desta cidade maravilhosa.
Seria oportuno que os fiéis, antes da peregrinação da imagem do Padroeiro, se preparassem com uma completa confissão auricular. A festa de São Sebastião, precedida de seu trezenário, é tempo de graça e de bênçãos para a nossa Arquidiocese. Muitos frutos, pessoais e coletivos, brotarão deste tempo propício de oração e de seguimento de Jesus Cristo.
Se todos os fiéis acorrerem a São Sebastião pedindo a sua proteção, nós sentiremos mais de perto o amor de Deus, a proteção de São Sebastião, e as bênçãos divinas caindo abundantemente sobre nós. Convido, por fim, com filial carinho, a juventude do Rio de Janeiro a conhecer e seguir mais de perto São Sebastião que, por sua morte, tornou-se confessor do seguimento de Jesus Cristo. Jovens, ouçam o apelo da Igreja, que nos convoca a reanimar a fé: “que a Jornada favorece um novo modo de ser homem, de ser cristão, através do voluntariado. Milhares de jovens fizeram o bem simplesmente por que é bom fazer o bem, é bom servir os outros. “É preciso apenas ousar o salto”, afirmou o Papa. “Outra característica das Jornadas é a alegria, que brota da certeza de ser amado por Deus. Só a fé me dá esta certeza: É bom que eu exista; é bom existir como ser humano, mesmo em tempos difíceis.” A fé nos faz felizes a partir de dentro. “Esta é uma das maravilhosas experiências das Jornadas Mundiais da Juventude".
Jovem, eu vos convido: abri o vosso coração para Cristo! É justamente a alegria de São Sebastião que, não tendo medo de confessar a sua fé em Cristo Ressuscitado, anima a nossa juventude do Rio de Janeiro a viver, com empenho, a trezena e a festa de São Sebastião para que, imitando o seu exemplo, confessemos e testemunhemos a fé católica na nossa cidade, que nasceu, cresceu e hoje vive sob a constante proteção de São Sebastião, que sempre nos aponta para o Cristo Redentor, caminho, verdade e vida!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Graça de Perseverar

Volúvel é o ser humano. Não se fixa em muitas coisas. Muitas vezes se fixa é no pecado, no qual não deveria perseverar enquanto abandona e trai a virtude, esta sim, motivo para perseverar. Não poucas vezes, o casal começa com juras de amor e de carinho eterno. Vem a dificuldade e um deles desiste. Pai ou mãe chora de emoção com o nascimento do filho no hospital. Vem a dificuldade e, ele ou ela, acaba fugindo de casa, sem o filho por quem chorou no dia do nascimento. 

O religioso se compromete, faz os votos. Vem a dificuldade e ele opta por outro caminho. Não agüentava mais aquele sacrifício. Descobriu que não estava pronto para tamanho peso. Assim, os que trocam de empresa, de profissão, de amor, de família! Todos eles seguiram outro caminho, ou porque o achavam melhor ou porque o outro estava difícil demais. 

Ninguém pode condenar alguém porque mudou. Sem conhecer todos os porquês, não há como emitir um julgamento. Na verdade, jamais conheceremos todos os porquês de uma pessoa. 

Fato é fato. A nossa é uma sociedade em que pouco se favorece o dom da perseverança. Pelo contrário, muitíssimas mensagens sugerem que se busque o novo. Embutido na proposta, o conselho de que quando as coisas ficam difíceis não faz sentido continuar ... É graça que se deve pedir. 

domingo, 1 de janeiro de 2012

O Ano Novo

Pois é, manos, mais um ano…

Ou menos um ano, como dizia meu pai, um eterno otimista.

Uma vez minha mãe foi consultar uma vidente e falou sobre o meu pai.

A vidente, depois daqueles salamaleques todos – mãozinha correndo prá cá, mãozinha correndo pra lá – aproximou-se de minha mãe e disse quase num sussurro:

 'Infelizmente papai já não está aqui para dizer o que nos espera em 2012'
Estou vendo seu marido…Ele é frio como uma lâmina…

Pois é…Ele podia ser frio como uma lâmina mas tinha uma capacidade extraordinária de ver o futuro.

Basta dizer que desde aquela época – isso foi nos anos 50 – previu coisas que só aconteceriam décadas depois.

Previu, por exemplo, o pré-sal.

Ele sempre dizia:  É preciso chegar ao fundo do poço.

Previu o sucesso fantástico da indústria automobilística, no super-congestionamento que imobilizará o planeta no ano de 2056.

Anteviu o sucesso das novelas da Rede Globo. E num tempo que nem existia a Rede Globo.

Ele via minha mãe siderada diante da televisão olhando  “Direito de Nascer”, em preto e branco e cheio de chuvisco, e dizia:

“Desliga essa merda!”

Infelizmente papai já não está aqui para dizer o que nos espera em 2012.

Ele faleceu em 2007, e deixou uma frase enigmática como despedida:

“Tchau gente, estou indo antes que 2008 me alcance…”

O ano de 2008, como é sabido, foi um ano crítico. Será que 2012 vai ser igual?

Será?

De qualquer modo, gente, não devemos nos preocupar em excesso.

Alguns de nós já passamos por 1964, e sobrevivemos.

Atravessamos 1968 – aquele ano que o Zuenir Ventura insiste em dizer que não acabou. Muitos viveram a interminável fase da transição, com suas crises e espasmos.

E, apesar disso, avançamos, percorrendo a pedregosa estrada que um dia poderá nos levar à democracia estável e permanente.

Talvez um dia a gente chegue.

Claro. Se o Poder Judiciário permitir…